Em 2012 nascia a banda Harvau, power trio que mudou a cena rock São Chicana. Mergulhados nos clássicos do rock mundial, Rodrigo Passos (guitar/vocal), Téo Lobo (baixo/vocal) e Djavan Agostinho (bateria) não esperaram e sem pedir licença foram logo dominando a cena e de quebra lançaram um álbum com 10 músicas. Não bastasse lideraram a cena numa retomada que gerou alguns dos principais festivais de rock da cidade dos últimos anos. Uma das bandas que eu mais aguardo o próximo disco e já tive a grande honra de dividir o palco. Uma verdadeira vau para o rock'n'roll e pilar da cena São Chicana! Por Paulo Reis.
[Grito Coletivo] Qual estilo de som a banda vem
fazendo?
[Harvau] (Téo) Falar sobre o som que fazemos hoje é
traçar uma linha de mudanças. Inicialmente a Harvau seguia a linha do Rock and
Roll, bastante influenciada pelos anos 60 e 70. Passamos por muitas coisas
desde o início, experimentamos diversas situações e, principalmente, buscamos
ao longo dos anos sermos honestos com a nossa música e com a nossa satisfação
pessoal. Para os que conheceram e frequentaram a “Casa Maluca”, atualmente
tentamos resgatar as experimentações e improvisos daquele tempo. Hoje vejo a
Harvau sendo levada pela corrente do som progressivo com um tom psicodélico.
[Grito Coletivo] Quais as principais influências para
o som de vocês?
[Harvau] (Téo) Nosso som é uma mistura de estilos e
influências. O Rodrigo trouxe bastante coisa de Mutantes, Pink Floyd, passando
por The Doors, Janis e Jethro Tull. Eu fui bastante influenciado pelo som do
Jimi Hendrix, The Beatles e King Crimsom. Já o Djavan sempre levou consigo o
balanço da sua raiz no samba misturado às batidas fortes do Rock.
[Grito Coletivo] Vocês lançaram o primeiro álbum em
2013, o que mudou de lá pra cá?
[Harvau] (Téo) Bastante coisa mudou. Ainda tocamos
músicas do primeiro álbum, mas não vejo a mesma banda no palco. Tocamos há anos
juntos. Começamos em trio e pelo caminho tivemos o prazer de termos conosco no
palco com a Harvau músicos como o compositor e guitarrista Tiago Constante; o
compositor e multi-instrumentista Paulo Reis; o músico, produtor, proprietário
do 2K Estúdio, Kelwin Grochowicz, que por um tempo assumiu as baquetas e sempre
esteve presente na nossa produção; o músico Davi Winter que, inclusive,
participou de uma música do álbum; e tantos outros que passaram e deram sua
contribuição. Tudo isso faz parte da evolução e acabamos mudando. Nos ensaios e
apresentações gostamos de improvisar e criar, ter confiança e vontade pra isso
é resultado de anos tocando juntos. Hoje voltamos à formação original e estamos
reformulando algumas coisas, mas a amizade e entrosamento só aumentam.
[Grito Coletivo] O álbum Vau do Rock and Roll ficou
bem conhecido pela acidez e críticas sociais presentes na maioria das letras, isso
ainda é o foco no som da banda?
[Harvau] (Téo) Sempre foi e continuará sendo. A
música é uma mensagem, uma forma de pensar, de agir e de ser.
Grande parte
dos artistas ignoram a responsabilidade que têm como formadores de opinião e
“influenciadores” de atitudes. Músicas com letras sexistas, discriminatórias e
sem nenhum conteúdo, por exemplo, pulverizam seus ouvintes, que são receptores
dessas mensagens, e é preocupante a forma como o público em geral recebe esse
conteúdo e demandam isso. Torna-se um ciclo, a oferta e a demanda, isso
empobrece a música, a cultura e o pensamento crítico. Nós estamos cientes da
nossa responsabilidade como parte de uma ferramenta de mudança.
[Grito Coletivo] O
processo criativo de vocês continua o mesmo?
[Harvau] (Téo) Nosso processo
criativo continua e acredito que continuará o mesmo. Somos grandes amigos, nos
reunimos para nos divertir e foi assim desde o início. Não somos metódicos.
Muitas vezes alguém cria algo sozinho e traz para banda. Outras vezes
improvisamos para ver o resultado disso. Gravamos esses improvisos para
trabalharmos posteriormente. Já perdemos muito conteúdo pelo caminho por não
gravarmos, mas dessa forma conseguimos extrair o que realmente somos.
[Grito Coletivo] O
Festival NVTC (Não vai ter coca) já é considerado por muitos como um dos
maiores e melhores festivais da região. Na cidade, com certeza, é o maior e
melhor. Vocês tocaram na primeira edição, estão confirmados na segunda que
acontece em maio?
[Harvau] (Téo) Oficialmente ainda
não fomos confirmados, mas já está praticamente certo e estamos preparando
algumas coisas novas.
[Grito Coletivo] Como veem
a cena autoral hoje, analisando todo este tempo atuando na cena local?
[Harvau] (Téo) Vivemos um momento
interessante, de contraste e ruptura. A indústria musical vive da demanda, cria
as necessidades e o público de massa surfa nessas ondas. Vemos safras de
músicas com cada vez menos conteúdo sendo lançada nos grandes meios, tanto nas
letras quanto na sua composição, e é perceptível o quanto a música já não é o
mais importante para esse público. Paralelamente corre um cenário oposto, vejo
uma solidificação do autoral como uma engrenagem cada vez mais forte. Um
sistema sem dependências que cresce tanto em público quanto em produção
musical. Eventos cada vez mais fortes e a fome de um público que aumenta a cada
dia em um cenário tecnológico e profissional nos deixa com o sentimento de que,
se não estamos no ponto ideal, estamos caminhando forte no caminho certo.
[Grito Coletivo] Na
opinião de vocês qual a maior deficiência e a maior eficiência da cena São
Chicana?
[Harvau] (Téo) Tanto a deficiência
quanto a eficiência são um conjunto de fatores determinantes. Os principais
complicadores: a inexistência de apoio público e o pensamento coletivo de uma
parte dos músicos e do próprio público. Não é novidade que os artistas
francisquenses são ignorados, definitivamente não existe apoio, vontade e
interesse. A Festilha é um de vários exemplos. A Festa das Tradições da Ilha
minimiza artista francisquense, que fica a mercê de uma hierarquia de
sanguessugas e parasitas. É impressionante a quantidade e a qualidade dos
artistas da nossa terra que não são devidamente reconhecidos. Não existe
valorização do artista, é comum o artista ficar perdido por não saber qual a
data e horário será a sua apresentação e ser avisado no dia e um cachê
simbólico. Não temos espaço no material de divulgação do evento, somos
rotulados somente como “Artistas Locais” na programação! É apenas um de vários
exemplos, infelizmente não há o compromisso do poder público para fomentar a
cena. Quem sabe se fossemos uma empresa que apoia e financia campanhas
políticas, não é mesmo? Naturalmente pela falta de apoio acabam surgindo
correntes independentes que movimentam a cena. Participamos diretamente na
produção, juntamente com outros músicos, de eventos como o Grito Rock, Festival
da Música Independente e diversos eventos no antigo Rock Island Bar. E aqui
chegamos a mais um complicador: o pensamento coletivo de uma parte dos músicos.
Muitos entendem a importância da união, por esse motivo foi possível a
realização de diversos eventos, mas a falta de sinergia de uma parte acaba
minando esses movimentos. E por fim, o pensamento do público. Uma parte do
público valoriza, de fato, as bandas da cidade que são tão fodas quanto ou até
melhores que bandas de fora da cidade e até mesmo bandas consagradas. Porém,
parte do público ainda entende que os músicos daqui devem tocar de graça ou não
querem pagar entrada, que muitas vezes é simbólica, para assistir três, quatro
ou até 5 bandas. Quando prestigiam, parecem que sentem sede de clássicos do
Rock! Muitos aproveitam os momentos em que a banda toca músicas autorais para
ir ao banheiro ou fumar um cigarro! O próprio Gillan (Deep Purple) disse uma
vez que o Rock Clássico está matando o Rock, citando exemplos do próprio Deep
Purple que não vê no público o interesse em ouvir canções novas em shows por
estarem sedentos pelos clássicos do passado, como Smoke On The Watter. Se isso
afeta bandas como Deep Purple, em quê magnitude isso atinge as bandas novas
e/ou de menor expressão? O pensamento é o problema nesse caso, mas é nítido
como isso vem mudando. Por outro lado, coisas boas vêm
acontecendo. Novos artistas e bandas de muita qualidade surgindo. De um tempo
pra cá temos um grande facilitador e via de acesso que é o 2K Estúdio. Artistas
compondo e gravando suas composições de forma profissional. Álbuns e clipes
sendo lançados a cada ano, coisas acontecendo, diversidade de estilos e o que é
mais interessante, feito com a cara e a coragem. Outro ponto importante foi o
surgimento do Dunas Arte Bar por meio do esforço da Daniela Nunes, Edson
Bernstorf e Djavan Agostinho, dando muito espaço para os músicos e bandas da
cidade. Vejo que maior eficiência está nesse conjunto de fatores e no processo
de mudança do pensamento. Ainda há muito a melhorar, mas sem dúvidas ver que
apesar de todas as dificuldades a cena vem se fortalecendo é muito gratificante
e empolgante.
[Grito Coletivo] A Harvau
sempre esteve envolvida com os principais movimentos musicais da cidade, ainda
acham importante este engajamento?
[Harvau] (Téo) Importantíssimo. O
que manterá os movimentos musicais acontecendo na cidade certamente é o
comprometimento e engajamento dos músicos.
[Grito Coletivo] Ouvi
falar de uma das últimas apresentações de vocês, no Dunas Arte Bar, que a
formação original voltou e que já estão tocando repertório novo, é isso mesmo?
[Harvau] (Téo) Tivemos o prazer de
tocar algumas vezes no Dunas Arte Bar. Na última apresentação tocamos algumas
coisas novas, quem comparecer no Festival Não Vai Ter Coca poderá conferir.
[Grito Coletivo] Quais os
principais objetivos para 2016?
[Harvau] (Téo) Continuar criando
coisas novas e, quem sabe, dar início a um novo processo de gravações.
Contato
Téo Lobo
47 8852-5333
teo.polizeli@hotmail.com
Téo Lobo
47 8852-5333
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